A poluição do ar foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das dez principais ameaças à saúde das pessoas. Dados mostram que nove em cada dez pessoas respiram ar contendo altos níveis de poluentes, levando ao aumento da mortalidade por doenças pulmonares, infecções respiratórias agudas, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, câncer de pulmão. E não estamos falando da poluição provocada pela produção industrial ou da queima de combustível fóssil.
Estudo da Global Climate and Health Alliance aponta que a fumaça dos incêndios florestais causa cerca de 340 mil mortes prematuras por ano em todo o mundo. De acordo com Antonio Borges, CEO da PlantVerd, startup que opera na execução de serviços ambientais para a recuperação de áreas degradadas em todo o Brasil, a presença de particulados no ar, devido à queima das vegetações, não afeta apenas quem já possui doenças respiratórias. “Vemos principalmente na região Norte do país a preocupação com as queimadas e incêndios florestais que aumentam a cada ano e provocam problemas de saúde tanto para a população rural como das cidades, pois a fumaça e a fuligem são levadas para longe, invadindo as áreas urbanas”.
Recentemente a cidade de São Paulo enfrentou esse problema. Um incêndio de grandes proporções no Parque do Juquery, área de preservação permanente, localizada no município de Franco da Rocha, há quase 60 quilômetros da capital paulista, fez o céu de bairros da periferia paulistana escurecer em plena tarde e as casas serem tomadas por fuligem.
A exposição à fumaça e à fuligem das queimadas provoca perdas ambientais importantes e pode causar efeitos adversos na saúde humana, lembra Borges. “E isso é um ciclo, pois as áreas de preservação também têm a função de manter o equilíbrio do clima, como a umidade do ar, a temperatura mais amena. Tanto que estamos vendo a cada ano o período de seca, que vai de junho a novembro, gradativamente ficando maior, com a falta de chuvas cada vez pior, o que favorece os incêndios”.
Borges explica que durante a queima de biomassa e incêndios florestais são emitidos vários poluentes, entre eles o material particulado (PM), além disso, também é liberado dióxido de enxofre (S02), óxidos de nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), Ozônio (O3), hidrocarbonetos (HC), Poluentes Climáticos de Vida Curta (PCVC) como o carbono negro; além de outras substâncias altamente tóxicas. A inalação da fumaça das queimadas e dos incêndios florestais aumenta os riscos de infecções respiratórias agudas, especialmente nas crianças e nos idosos, tornando-os segmentos vulneráveis da população a adoecimento e morte.
Entre os sintomas da exposição aguda podem ser observados dores de cabeça, irritação e ardência nos olhos, nariz e garganta, rouquidão, lacrimejamento, tosse seca, dificuldade de respirar, cansaço e dermatites. Borges lembra que esses problemas ficam mais críticos ainda durante este período de crise sanitária que vivemos onde os doentes afetados pelos incêndios florestais vão disputar espaço com infectados pela COVID-19.