É comum ver os jovens deixarem o campo e irem para a cidade em busca de melhores condições de vida. Mas essa realidade pode mudar. Muitos deles apostam na permanência no campo como caminho para uma vida com mais qualidade e sucesso profissional. São jovens que valorizam a tradição e querem investir na agricultura familiar, como fizeram seus pais e avós. Só que, para ficar é preciso incentivo.
Para estimular a juventude rural, o Governo Federal lançou em maio o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural. Destinado aos jovens da agricultura familiar e de comunidades remanescentes de quilombos e demais povos e comunidades tradicionais, o Plano quer promover o acesso à terra, garantir trabalho e renda, o acesso à educação e promover a qualidade de vida. O público-alvo é identificado por meio do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e pela Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar (DAP).
Para o secretário adjunto da Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), Jefferson Coriatec, é preciso fortalecer e garantir que as políticas pensadas para o jovem do campo cheguem até eles de forma eficaz. “Para manter o jovem no campo precisamos fortalecer as políticas que existem e que, às vezes, não são conhecidas ou têm dificuldades na ênfase e no foco”, explica.
Uma das formas para garantir a permanência do jovem no campo é a educação. Para Coriatec, que já foi presidente do Comitê Mundial de Jovens da Confederação Internacional de Sindicatos, levar educação de qualidade para esse público é uma das prioridades da Sead. “Nós vamos fazer parcerias e promover ações para que o aprendizado ocorra no campo, sem precisar que ele saia de lá”, acrescenta, ao falar da importância da educação para promover a sucessão rural. “A agricultura familiar é tradição que precisa ser mantida”, conclui.
Incentivos
Hoje, os jovens que decidem ficar no campo contam com o apoio do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). A linha Pronaf Jovem faz parte das políticas oferecidas pelo Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural. O programa permite três operações financeiras por pessoa. O limite é de até R$ 15 mil por contrato (totalizando R$ 45 mil) e os encargos financeiros são de 1% ao ano. O prazo de pagamento é de até 10 anos, com cinco de carência.
Outro incentivo é a linha de crédito Nossa Primeira Terra (NPT), do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF). Com juros de 1% ao ano e prazo de até 35 anos para pagar, a linha é uma alternativa para o acesso à terra. É destinada a jovens, com idade entre 18 e 29 anos, filhos de agricultores familiares e/ou provenientes de escolas agrotécnicas e centros familiares de formação por alternância, que queiram viabilizar o próprio projeto de vida no meio rural.
Além disso, os jovens do meio rural também têm direito a 5% dos lotes da reforma agrária em todo o Brasil. Com isso, o governo assegura, nos assentamentos com 20 lotes ou mais, a permanência (ou o retorno ao campo) de jovens rurais solteiros com até 29 anos, residentes ou com origem no meio rural. De acordo com o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), entre 2010 e 2014, 40% dos assentados da reforma agrária foram jovens.
Exemplo
Leomar Mileski Bedum, de 27 anos, é um exemplo de que quando há incentivo, o melhor é ficar no campo. Ele vive com os pais e o irmão mais novo numa propriedade de 25 hectares na cidade de Barão do Triunfo (RS). Em 3 hectares eles cultivam repolho, batata doce de três espécies, tomate e cebola. A família contou com o apoio do Pronaf Mais Alimentos para comprar um trator, recebe assistência técnica e vende parte da produção para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Leomar, que se prepara para pegar uma nova linha de crédito para comprar um caminhão que ajude no escoamento da produção, não se arrepende de ter ficado no campo. “Conforme vou conhecendo mais como funciona o mercado para vender o que estou produzindo na nossa terra, vai ficando mais fácil. Estamos nos adequando, aprendendo”, conta. O pai de Leomar, Vilmar Oltz Bedum, de 55 anos, comemora o fato de os filhos terem ficado no campo. “Eu tenho sorte de os meus meninos ficarem aqui, a maioria vai para a cidade", ressalta.
/Ascom