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Sustentabilidade da Amazônia é fator-chave para frear mudanças climáticas
Sustentabilidade da Amazônia é fator-chave para frear mudanças climáticas

O combate ao desmatamento da Amazônia e a promoção de iniciativas de reflorestamento em larga escala visando aumentar o armazenamento de carbono na biosfera terrestre são estratégias essenciais para evitar o agravamento das mudanças climáticas, segundo avaliação feita pelos participantes da 5ª Conferência Regional sobre Mudanças Climáticas Globais na tarde da última terça-feira (05/06).

Realizado pelo Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Mudanças Climáticas (NapMC-Incline), em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP) e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), o evento tem o objetivo de celebrar o aniversário de 90 anos do físico José Goldemberg, presidente da FAPESP, e reconhecer sua atuação expressiva no debate sobre o papel das energias renováveis no desenvolvimento, sustentabilidade das florestas e nas negociações internacionais para o combate às mudanças no clima.

O painel dedicado ao tema “Florestas Tropicais e Sustentabilidade” foi coordenado por Thelma Krug, membro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). A pesquisadora apresentou dados divulgados em 2014, no Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, e destacou a importante contribuição das florestas tropicais como sumidouros de carbono, ou seja, para a absorção de parte do CO2 emitido pelas atividades humanas.

“Das emissões totais anuais, 30% aproximadamente acabam retornando para a biosfera terrestre e outros 30% são sequestrados pelos oceanos. Cerca de 40% permanecem na atmosfera. O CO2 é considerado um dos gases mais críticos, pois cerca de 30% permanecem por mais de cem anos na atmosfera”, disse.

Segundo Krug, na última década houve uma mudança significativa nas fontes de emissões antrópicas de CO2 devido a dois fatores principais: iniciativas de reflorestamento em larga escala adotadas na China e a significativa queda no desmatamento da Amazônia registrada a partir de 2004. “O desmatamento era o nosso grande vetor de emissões e hoje passou a ser a agricultura e a geração de energia”, afirmou.

Krug lembrou ainda que na conferência que antecedeu a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, o Brasil se comprometeu a reduzir em 37% as emissões até 2025, tendo como ponto de partida as emissões de 2005, podendo chegar a uma redução de 43% até 2030.

“O Brasil fez o exercício de dizer como seria possível atingir essa meta e a mudança no uso da terra tem contribuição significativa. Isso inclui combate ao desmatamento ilegal na Amazônia, recuperação de florestas e áreas degradadas e reflorestamento”, disse.

Carlos Nobre, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas – um dos INCTs apoiados pela FAPESP e pelo CNPq no Estado de São Paulo –, falou sobre como os impactos causados pela mudança no uso da terra podem prejudicar a capacidade da floresta amazônica de se autossustentar.

Nobre lembrou que, a partir dos anos 1970, os países amazônicos adotaram um modelo de substituição da floresta para expansão de suas fronteiras agrícolas, o que colocou em xeque a ideia de que a Amazônia é um elemento essencial para a estabilidade planetária por sua capacidade de armazenar carbono, regular a hidrologia e o balanço energético em diversas regiões e abrigar pelo menos 10% da biodiversidade do planeta, entre outros fatores.

“O Inpe teve o papel de nos acordar para a realidade. No fim dos anos 1980 divulgou os primeiros números [sobre o desmatamento] que chocaram o planeta. A partir de então, o interesse em descobrir cientificamente o que poderia acontecer caso o desmatamento continuasse aumentou muito”, disse o pesquisador aposentado do Inpe.

Nobre comentou sobre sua participação em pesquisas que permitiram levantar a hipótese da savanização da floresta. Segundo essa teoria, se o desmatamento atingir um determinado limite, em torno de 40%, a alteração no clima regional será tão profunda que a área desmatada nunca voltará a ser uma floresta e assumirá características de savana.

Falou ainda sobre projeções mais recentes que levaram em conta, além do desmatamento, outros fatores que começaram a impactar o ciclo hidrológico amazônico, como as mudanças climáticas e o uso indiscriminado do fogo por agropecuaristas durante períodos secos – com o objetivo de eliminar árvores derrubadas e limpar áreas para transformá-las em lavouras ou pastagens.

Segundo Nobre, a combinação desses três fatores indica que o novo ponto de inflexão a partir do qual ecossistemas na Amazônia Oriental, Sul e Central podem deixar de ser floresta seria atingido se o desmatamento alcançar entre 20% e 25% da floresta original – algo que está muito perto de ocorrer, segundo o pesquisador (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/27180/).

“Até 2004, havia uma ideia clara entre os economistas de que o desmatamento era controlado pela demanda de grãos e proteína animal e de que a economia controlava a taxa de ocupação na Amazônia. Mas tivemos uma política muito bem-sucedida a partir de 2004, reforçada em 2008, e com muita vigilância e conscientização o desmatamento despencou. No entanto, o preço da carne e da soja continuou a subir e a produção agrícola só aumentou no período. Isso mostra que há um desacoplamento entre os dois fatores”, disse.

Apesar disso, ponderou Nobre, a pressão para a expansão da fronteira agropecuária permanece e os países amazônicos, entre eles o Brasil, terá de escolher qual trajetória seguir. “Sou otimista e acredito que vamos privilegiar a preservação, mas para isso é preciso ampliar o conhecimento e usá-lo como base da sustentabilidade da Amazônia”, disse.

 

Fonte: Agência Fapesp

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